ECONOMIA & FINANÇAS
AUMENTO DAS TAXAS DE JURO VAI PROVOCAR RECESSÃO AINDA MAIS PROFUNDA
O economista Joseph Stiglitz defendeu, esta segunda-feira, que as medidas tomadas pelos bancos centrais de aumentar as taxas de juro “não vão fazer muito para resolver o problema” e irão provocar “uma recessão ainda mais profunda”.
O economista Joseph Stiglitz defendeu, esta segunda-feira, que as medidas tomadas pelos bancos centrais de aumentar as taxas de juro “não vão fazer muito para resolver o problema” e irão provocar “uma recessão ainda mais profunda”.
“Quase todos os episódios de inflação foram provocados por excesso de procura, isto, tal como as crises do preço do petróleo, há 50 anos, resulta de choques na cadeia de abastecimento”, explicou o Nobel da Economia de 2001, dizendo que estes choques começaram com a pandemia da covid-19 e que agora estão a ser exacerbados pela guerra na Ucrânia”.
Na sua intervenção no seminário “Os desafios de Inverno da Europa: energia, economia e política”, iniciativa da ERSTE Foundation, Europe’s Futures-Ideas for Action (IWM), Presseclub Concordia, e do Forum Journalismus und Medien (fjum), o economista referiu que as subidas das taxas de juro pelos bancos centrais “não vão fazer muito para resolver o problema”.
Na semana passada, a Reserva Federal norte-americana (Fed) anunciou uma subida de 75 pontos base na sua taxa de juro, um aumento idêntico ao que tinha decidido nas duas últimas reuniões e o quinto aumento desde março, ficando a taxa dos fundos federais entre 3% e 3,25%, o nível mais alto dos últimos 14 anos.
Em 08 de setembro, o BCE subiu as três taxas de juro diretoras em 75 pontos base, o segundo aumento consecutivo deste ano, já que em 21 de julho, tinha subido em 50 pontos base as três taxas de juro diretoras, a primeira subida em 11 anos, com o objetivo de travar a inflação.
No seminário realizado em Viena e com transmissão virtual, Stiglitz afirmou que o mundo está “numa situação peculiar” em que pode enfrentar, ao mesmo tempo, uma recessão grave e uma inflação elevada.
“Estamos numa situação peculiar em que há um debate sobre se o mundo está prestes a enfrentar uma recessão grave e inflação, e normalmente esses dois fatores estão em lados opostos: se a economia está fraca, há deflação, e se a economia está forte, há inflação, e isto não acontece há muito tempo”, disse, apontando que há muitas variáveis que não são possíveis de antecipar, como a guerra na Ucrânia, a pandemia e os seus efeitos na China.
O Nobel da Economia abordou ainda as preocupações sobre o inverno na Europa, dizendo que muitas das incertezas e do sofrimento “são autoinfligidos”.
Stiglitz defendeu que os Estados Unidos da América e a Europa ainda não perceberam que estão em guerra e que isso desprotege as suas economias.
“A minha preocupação é que EUA e Europa ainda não tenham percebido que estamos em guerra. Quando os países estão em guerra, não deixam as economias como se estivessem em tempos de paz. As economias em guerra e em paz são diferentes. Continuam-se a utilizar os mercados, mas regulam-se muito mais”, sublinhou.
Nesse sentido, o Nobel da Economia referiu que, “ao não admitir que está em guerra, a Europa está a fazer com que as suas pessoas sofram muito mais”.
De igual forma, Stiglitz lançou uma crítica às fragilidades dos mercados, que resultaram do que disse ser a “vista curta” do neoliberalismo.
“Achávamos que o mercado estava muito melhor que o que estava, quando o mercado estava bem pior, e isso é parte da minha crítica ao neoliberalismo, tem vista curta e ninguém conseguia acreditar que tinha pouca resiliência”, referiu.
O economista acrescentou que, ao invés de uma subestimação da inflação, houve uma sobrestimação da resiliência dos mercados.
“Quando nos dizem que ‘subestimaram a inflação’, o que deveriam realmente dizer é que sobrestimaram a competência dos mercados, e os mercados provaram-se estar muito maus”, concluiu, dando o exemplo da escassez de leite em fórmula nas prateleiras de supermercados nos EUA.
A crise energética decorrente do conflito ucraniano é uma das principais preocupações dos países europeus, que se preparam para um inverno difícil.
Nas perspetivas hoje divulgadas, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) melhorou as perspetivas de crescimento da zona euro deste ano para 3,1%, mas piorou as do próximo ano para 0,3%, estimando ainda uma inflação de 8,1% este ano e de 6,2% no próximo.
Já a nível global, a OCDE manteve as perspetivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial deste ano em 3%, prevendo que as economias do G20 cresçam 2,8% (menos 0,1 ponto percentual (pp.) do que em junho.
ECONOMIA & FINANÇAS
SETE EM CADA DEZ EMPRESAS DISCORDAM DA SEMANA DE QUATRO DIAS
Sete em cada dez empresas são contra a implementação da semana de quatro dias, sobretudo no comércio, indústria e construção, e 71% das que concordam defendem que a medida deveria ser facultativa, segundo um inquérito hoje divulgado.
Sete em cada dez empresas são contra a implementação da semana de quatro dias, sobretudo no comércio, indústria e construção, e 71% das que concordam defendem que a medida deveria ser facultativa, segundo um inquérito hoje divulgado.
Elaborado pela Associação Industrial Portuguesa — Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI) e referente ao quarto trimestre de 2024, o “Inquérito de Contexto Empresarial sobre o Mercado Laboral” indica ainda que 70% das empresas defendem que matérias laborais como carreiras, benefícios, remunerações complementares ou limites de horas extraordinárias deveriam ser concertadas no interior das empresas e não em sede de Contrato Coletivo de Trabalho (CCT).
Relativamente ao banco de horas individual, 71% das empresas inquiridas dá parecer favorável e, destas, 74% entende que deveria ser fixado por acordo dentro da empresa, em vez de nas convenções coletivas de trabalho.
Segundo nota a AIP, entre as empresas que mais defendem esta concertação interna estão as pequenas e médias empresas.
Já em termos de modelo de trabalho, 81% das 523 empresas participantes dizem praticar trabalho presencial, 17% um modelo híbrido e 2% teletrabalho. Entre as que adotaram um modelo híbrido ou remoto, 73% afirmam que tal contribuiu para uma melhoria da produtividade e 84% consideram manter este modelo.
Quando questionadas sobre o Salário Mínimo Nacional (SMN), 83% das empresas concordam com a sua existência, ainda que 65% entendam que não deve ser encarado como um instrumento de redistribuição de riqueza.
Entre as que consideram que o SMN deve ser um instrumento com este fim, 45% diz que deveria ser a sociedade a suportá-lo, através de impostos negativos nos rendimentos mais baixos, enquanto as restantes 55% defendem que deveria ser suportado pelos custos de exploração das empresas.
Relativamente ao valor de 1.020 euros mensais projetados para o SMN até ao final da atual legislatura, mais de metade (56%) das empresas inquiridas apontam que é suportável pela conta de exploração das empresas, embora 95% desconheça algum estudo que aponte o seu setor de atividade como tendo capacidade para o financiar.
Para 65% das empresas, a fixação anual do salário mínimo deveria estar dependente da evolução da produtividade.
Quando questionadas sobre a autodeclaração de doença, 55% das empresas manifestou-se contra, apesar de 89% assinalar que nunca registou um caso destes ou que estes são muito pouco frequentes.
No que respeita ao designado “direito a desligar”, metade das empresas defende-o e outras tantas discordam, sendo que entre as que apresentam maior taxa de rejeição à implementação desta medida estão, sobretudo, as médias e microempresas.
Já quanto a sua comunicação à ACT, 86% das empresas discordam deste procedimento.
O inquérito da AIP-CCI foi realizado entre 12 de outubro e 11 de novembro de 2024 junto de 523 sociedades comerciais de todo o país (24% do Norte, 32% do Centro, 26% da Área Metropolitana de Lisboa, 12% do Alentejo, 3% do Algarve e 3% das ilhas).
A indústria representou 47% da amostra, seguida pelos serviços (26%), comércio (14%), construção (7%), agricultura (3%), alojamento e restauração (2%) e transportes e armazenagem (1%), sendo que 3% eram grandes empresas, 8% médias, 45% pequenas e 44% microempresas.
Da totalidade da amostra, 49,01% são empresas exportadoras.
ECONOMIA & FINANÇAS
ERC: APENAS 4% DOS MEDIA PORTUGUESES FATURAM ACIMA DE 10 MILHÕES
As empresas de media com rendimentos acima de 10 milhões de euros representavam 4% da totalidade em 2023, segundo a análise económico-financeira da ERC hoje divulgada, que aponta que as receitas não registaram melhoria face ao ano anterior.
As empresas de media com rendimentos acima de 10 milhões de euros representavam 4% da totalidade em 2023, segundo a análise económico-financeira da ERC hoje divulgada, que aponta que as receitas não registaram melhoria face ao ano anterior.
Esta é uma das conclusões do estudo de análise económica e financeira sobre os media em Portugal da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) relativo ao exercício de 2023, que tem por base dados reportados pelos regulados, no âmbito da Lei da Transparência da Titularidade dos Meios de Comunicação Social (Lei nº 78/2015, de 29 de julho).
“A análise conduzida pela ERC apurou que os ativos totais das empresas de comunicação social ascenderam a 1.123.063 euros e os rendimentos totais da atividade a 1.166.911 euros”, lê-se no comunicado do regulador.
Constatou-se “que as empresas com rendimentos superiores a 10 milhões de euros apenas representaram 4% da totalidade de entidades, mas 86% dos ativos, 84% dos capitais próprios do setor e 89% dos rendimentos”, prossegue a ERC.
O regulador refere que sobressai “o facto de não se ter assistido, em 2023, a uma melhoria dos rendimentos das empresas de comunicação social em Portugal, mantendo-se em 53% a percentagem de empresas que registam crescimento dos rendimentos”.
No período em análise, “o número de empresas com resultados líquidos positivos, resultados operacionais ou EBITDA positivos, e capitais próprios positivos situou-se em proporções inferiores a 2022”.
O estudo caracteriza o setor dos media português de “granular, composto por muitas pequenas empresas, em especial nos segmentos mais tradicionais, como as publicações periódicas e as rádios hertzianas”.
Aliás, “são as pequenas empresas que enfrentam maiores dificuldades face à alteração paradigmática da forma como os conteúdos são consumidos e dos interesses e composição dos consumidores, limitando ou inibindo a capacidade de crescimento”.
A publicidade continuou a ser a principal fonte de receitas do setor em 2023, “mas a sua evolução apresentou um comportamento misto entre as principais instituições”.
De acordo com a análise, “verificou-se um aumento das receitas de publicidade do segmento de televisão, mas mais centrado nos canais de televisão por subscrição (STVS) em detrimento do ‘free-to-air’ [canais gratuitos]”.
O consumo de notícias “é cada vez mais fragmentado entre diferentes plataformas comunicacionais e que a utilização do vídeo como fonte noticiosa tem vindo a crescer, especialmente entre os mais jovens”, refere a análise, que adianta que como “principal fonte de conteúdos de vídeo noticiosos surgem as plataformas de partilha de vídeo em detrimento dos ‘sites’ dos editores, o que aumenta os desafios de monetização de produção de conteúdos e conexão destes últimos”.
O estudo completo da ‘Análise Económica e Financeira ao Setor de Media em Portugal no ano 2023’ pode ser consultado na página da ERC.
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