CIÊNCIA & TECNOLOGIA
DESVENDADO MECANISMO QUE PERMITE MAMÍFERO REGENERAR SISTEMA NERVOSO CENTRAL APÓS LESÃO
Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto desvendaram, num animal mamífero, os mecanismos moleculares que permitem regenerar o Sistema Nervoso Central após uma lesão da medula, foi hoje anunciado.
Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto desvendaram, num animal mamífero, os mecanismos moleculares que permitem regenerar o Sistema Nervoso Central após uma lesão da medula, foi hoje anunciado.
O estudo, publicado na revista científica ‘Developmental Cell’, revela os mecanismos moleculares que permitiram ao ratinho espinhoso (Acomys cahirinus) regenerar a espinhal medula após uma lesão.
A descoberta “vem revolucionar um antigo paradigma”, uma vez que até hoje não se conhecia nenhum mamífero capaz de regenerar o Sistema Nervoso Central e recuperar a mobilidade após uma lesão da medula, salienta o instituto em comunicado.
“Quebra-se assim uma enorme barreira no desenvolvimento de terapias para lesões imobilizantes”, observa.
A regeneração do sistema nervoso central em mamíferos adultos é “virtualmente impossível” pela incapacidade de os neurónios afetados reconstituírem os axónios afetados quando ocorre uma lesão, resultando numa paralisia dos membros.
No decorrer da investigação, verificou-se que no local da lesão na medula do animal ocorria uma “regeneração robusta de axónios, permitindo a formação de sinapses e propagação de sinal eletrofisiológico”, algo que o instituto salienta ser “único entre os mamíferos”.
Os investigadores descobriram que é ativada uma via biossintética no animal que permite a formação de proteínas com uma assinatura de açúcares específica, e que essas proteínas “parecerem ser a chave para a capacidade pró-regenerativa”.
“Em contraste com outros mamíferos, o Acomys cahirinus desenvolve um tecido pró-regenerativo sem cicatrizes no local da lesão, proporcionando uma continuidade estrutural única da geometria inicial da medula espinhal”, esclarece o i3S, lembrando que, normalmente, após uma lesão, os mamíferos ficam com uma cicatriz que os axónios são incapazes de ultrapassar.
Citada no comunicado, a coordenadora do estudo, Mónica Sousa, esclarece que as lesões da espinhal medula afetam os axónios que fazem circular informação do corpo para o sistema nervoso central e vice-versa, “isolando os órgãos da central de processamento de informação”.
“Conhecem-se seres com capacidade regenerativa de membros inteiros, como o caso de alguns anfíbios, mas pensava-se que todos os mamíferos adultos perdiam por completo a capacidade regenerativa do Sistema Nervoso Central”, refere.
Mónica Sousa salienta ainda que as descobertas no processo regenerativo da espécie representam “um momento de mudança para a investigação biomédica na área de regeneração”.
“Até hoje tinham-se feito avanços na compreensão da função de algumas proteínas que auxiliavam no processo regenerativo, mas o Acomys permitiu-nos perceber que é preciso olhar para a assinatura dos açúcares presentes e para a sua biossíntese, o que irá alavancar o que se faz nesta área”, acrescenta.
Também a primeira autora do estudo, Joana Nogueira-Rodrigues, refere que o ratinho espinhoso é “uma exceção entre todos os mamíferos”, ao ser capaz de restaurar a função locomotora após uma lesão grave da espinhal medula.
Já os investigadores da Universidade do Algarve Gustavo Tiscornia e Inês Araújo reforçam que o ratinho espinhoso é “um mamífero extraordinário, pois a sua capacidade regenerativa também se verifica noutros sistemas e órgãos, como pele, orelhas e músculos”.
O estudo contou com a colaboração de investigadores da Universidade do Algarve, de várias equipas do i3S e com o apoio financeiro da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da ‘Wings for Life’.
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
MARTE TEVE PERÍODOS QUENTES E ÁGUA DURANTE 40 MILHÕES DE ANOS
Cientistas de Harvard determinaram os mecanismos químicos através dos quais Marte era capaz de manter calor suficiente nos seus primórdios para sustentar água e possivelmente vida.
Cientistas de Harvard determinaram os mecanismos químicos através dos quais Marte era capaz de manter calor suficiente nos seus primórdios para sustentar água e possivelmente vida.
O facto de atualmente Marte ser frio e seco mas ter tido rios e lagos há vários milhares de milhões de anos intriga os cientistas há décadas.
“Tem sido um verdadeiro mistério que houvesse água líquida em Marte, porque Marte está mais longe do Sol e, além disso, o Sol era mais fraco no início”, explicou, em comunicado, Danica Adams, investigadora de pós-doutoramento da NASA na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas John A. Paulson (SEAS) de Harvard e principal autora do novo artigo publicado na Nature Geoscience.
Anteriormente, existia a teoria de que o hidrogénio era o ingrediente mágico que, quando misturado com o dióxido de carbono da atmosfera marciana, desencadeava episódios de aquecimento global. Mas a vida útil do hidrogénio atmosférico é curta, pelo que foi necessária uma análise mais detalhada.
Agora, Adams, o professor Robin Wordsworth de Ciências Ambientais e Engenharia na SEAS, e a sua equipa realizaram modelação fotoquímica (semelhante aos métodos utilizados hoje em dia para rastrear poluentes atmosféricos) para preencher os detalhes da relação da atmosfera marciana primitiva com o hidrogénio e como este relacionamento mudou ao longo do tempo.
“Marte antiga é um mundo perdido, mas pode ser reconstruído em detalhe se fizermos as perguntas certas”, frisou Wordsworth.
“Este estudo sintetiza a química atmosférica e o clima pela primeira vez para fazer algumas previsões surpreendentes que podem ser testadas quando trouxermos rochas de Marte para a Terra”, acrescentou.
Adams modificou um modelo chamado CINETICA para simular como uma combinação de hidrogénio e outros gases que reagem com o solo e o ar controlavam o clima marciano primitivo.
Descobriu que durante os períodos Noachiano e Hesperian, entre há 4 e 3 mil milhões de anos, Marte passou por períodos quentes episódicos ao longo de cerca de 40 milhões de anos, com cada evento a durar 100.000 anos ou mais.
Estas estimativas são consistentes com as características geológicas de Marte atualmente. Os períodos quentes e húmidos eram causados pela hidratação da crosta, ou perda de água do solo, que fornecia hidrogénio suficiente para se acumular na atmosfera durante milhões de anos.
“Identificámos escalas de tempo para todas estas alternâncias. E descrevemos todas as peças no mesmo modelo fotoquímico”, sublinhou Adams.
O trabalho de modelação fornece novas perspetivas potenciais sobre as condições que sustentaram a química prebiótica (os fundamentos da vida posterior como a conhecemos) durante os períodos quentes, e os desafios para a persistência dessa vida durante os intervalos frios e oxidativos.
Adams e outros cientistas estão a começar a trabalhar para encontrar evidências destas alternâncias utilizando modelos químicos isotópicos e planeiam comparar estes resultados com rochas da próxima missão Mars Sample Return (MRS).
Como Marte não possui placas tectónicas, ao contrário da Terra, a superfície visível atualmente é semelhante à de antigamente, tornando a sua história dos lagos e rios muito mais intrigante, realçou ainda.
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
ASTEROIDE BENNU REVELOU EXISTÊNCIA DE MOLÉCULAS DE ADN
Cientistas japoneses detetaram numa amostra do asteroide Bennu as moléculas necessárias para a formação de ADN e ARN, suportando a teoria de que os asteroides podem ter transportado, por impacto, os blocos de construção da vida para a Terra.
Cientistas japoneses detetaram numa amostra do asteroide Bennu as moléculas necessárias para a formação de ADN e ARN, suportando a teoria de que os asteroides podem ter transportado, por impacto, os blocos de construção da vida para a Terra.
De acordo com o trabalho publicado esta quarta-feira na revista científica Nature Astronomy, as amostras analisadas revelaram a presença das cinco bases nitrogenadas — adenina, guanina, citosina, timina e uracilo — necessárias para a construção de ADN e ARN.
Foram igualmente identificados pelos investigadores da Universidade Hokkaido, no Japão, os compostos xantina, hipoxantina e ácido nicotínico (vitamina B3).
Uma amostra de 121,6 gramas do asteroide Bennu chegou à Terra em 2023 à “boleia” da missão Osiris-Rex, da agência espacial norte-americana (NASA).
Tratou-se da maior amostra extraterrestre recolhida e enviada para a Terra.
Segundo uma das teses, os asteroides (corpos rochosos do Sistema Solar) contribuíram com água e componentes químicos essenciais para a vida na Terra há milhares de milhões de anos.
Embora os meteoritos na Terra provenham de asteroides, a interpretação dos seus dados “é desafiante” face à “exposição à humidade” da atmosfera e a “uma biosfera descontrolada”, refere a Universidade Hokkaido em comunicado, assinalando que “amostras imaculadas recolhidas de asteroides no espaço são os candidatos ideais”.
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